e chuva farta.
Manhã inundada de luz
e cheia no rio Carás
terreiros inundados com poças d’ água
ou então, nas margens dos caminhos,
riachinhos que corriam entre pedras
e iam do terreiro da nossa casa ao terreiro da casa de vovô Valdevino
Eram nossos pequenos rios pessoais.
O dia ficava tão mais bonito depois que a chuva lavava tudo:
as flores, as pedras, o telhado, a calçado, o terreiro.
Existia outra luminosidade no ar
refletindo no chão, no espaço, nas árvores, nas almas das pessoas.
O cheiro da chuva quando já se foi
é diferente do cheiro que traz na chegada
que é um cheiro arrebatador:
a alegria, a festa, o alvoroço e, tantas vezes,
a impetuosidade com que chega tem cheiro
de que veio para um grande encontro de amor com a terra.
Desaguar nela, molhar, fertilizar, acordar seus minérios
aguando seus vulcões.
Ficávamos no alpendre da casa
olhando a chuva cair
olhando a chuva abençoar a terra
na sua partida
deixando os terreiros os caminhos as plantações
os rios as árvores os tabuleiros os animais lavados
e nossas almas também lavadas.
O caminho para os banhos no rio
por entre os arrozais
caminhos de poços d’ água
caminhos de lama
lagartas grudavam nas nossas roupas
minha irmã gritava apavorada
as outras riam e corriam
para o banho de rio.
Desnudas, despidas
de medo e pudor
mergulhadas nos rio
pura festa. Entrega.
Os muricis
os oitizeiros
os maris
as unhas de gato cobriam o leito do rio.
Do alto o sol se infiltrava por entre os galhos
curioso
espiando nossa nudez menina.
(StelaSiebraBrito)
Um comentário:
Estou feliz demais, quando me vejo tão só na forma de expressar minha paixão pela minha adorada Ponta da Serra, assim sem intenção nenhuma, encontro essa riqueza de poema e fartura de sabedoria em alguém que também mora longe como eu deste lugar que tanta alegrias nos deu e hoje expomos à nosso modo essa saudade.
Obrigada Amiga por esta oportunidade.
Abraços
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